No primeiro semestre de 2018, a indústria gaúcha manteve o lento e gradual processo de recuperação iniciada em 2017. Entretanto, diversos eventos fizeram com que a sensação de recuperação fosse menos intensa do que o esperado. O Índice de Desempenho Industrial do RS (IDI/RS) avançou 1,9% no primeiro semestre de 2018 ante ao mesmo período do ano anterior. O indicador de atividade da indústria gaúcha não registrava crescimento no acumulado dos seis primeiros meses do ano desde 2013.
No setor metalmecânico (exceto tratores e máquinas agrícolas), o crescimento do IDI/RS no acumulado de janeiro a junho foi de 9,4% contra o mesmo período do ano passado. Esse crescimento ocorre impulsionado por uma base de comparação muito deprimida. O IDI/RS do segmento ainda está 22,6% abaixo do patamar pré-crise. Vale destacar que esse o resultado do primeiro semestre foi impulsionado pelo segmento de veículos automotores, que se beneficiou da maior demanda externa nos primeiros meses do ano.
Quatro fatores foram determinantes para que o desempenho do setor fosse abaixo do esperado no primeiro semestre: a crise cambial na Argentina, a greve dos caminhoneiros, o aumento no preço do aço e a desvalorização do Real. Esses elementos se somam a um ambiente de incerteza política e de crescente turbulência nos mercados internacionais. O resultado prático desses eventos foram maiores custos de produção, aumento nos preços dos fretes e postergação de investimentos.
O índice de intensão de investimentos, medido pela Sondagem Industrial do RS, alcançou em abril o seu maior valor desde 2013, 57,3 pontos, mostrando uma maior propensão de investir nos próximos seis meses. O indicador varia de 0 a 100 pontos, sendo que quanto maior o índice maior a disposição para investir dos industriais. Após a greve dos caminhoneiros esse indicador caiu nos meses seguintes e atingiu 47,2 pontos em julho. Portanto, a intensão de investimento não é unanimidade entre os empresários gaúchos para os próximos seis meses. O indicador para o total do País, importante para aqueles que vendem para fora do Estado, mostrou comportamento menos volátil e está em 51 pontos.
A nossa avaliação do cenário aponta para a continuidade do ciclo de recuperação interna e, na medida em que as incertezas eleitorais se dissipem, o crescimento pode se acelerar em 2019. Acreditamos que a recuperação está em curso, mas num ritmo ainda muito devagar. Os diversos indicadores de atividade contemplam a continuidade dessa tendência de melhora. Independente do resultado das urnas, os desafios no campo político, principalmente aqueles relacionados ao ajuste fiscal continuarão ocupando bastante espaço no debate público. Entretanto, acreditamos que a economia real manterá a trajetória de melhora, ainda que a tensão política se eleve, principalmente em decorrência do processo de ajuste das contas públicas e tentativa de aprovação de reformas.